21 de abr. de 2010

Os conflitos de geração e o cuidado com a criança e o adolescente


Você que viveu sua infância nos anos 70, 80 e 90 deve já ter se pego a pensar como as coisas eram diferentes em relação ao que vemos hoje em dia. Correto? Vamos lá, vou tentar problematizar algumas situações que constantemente assistimos no cotidiano das pessoas, no trabalho, em casa, no ponto de ônibus, no supermercado, nas ruas,...
Você já pensou na relação que existe entre um ato violento de um pai ou uma mãe contra seu próprio filho com o comportamento agressivo que esta mesma criança apresenta na relação com seus colegas, seja na sua rua ou na sua escola?
Já pensou que o baixo desempenho de uma criança na escola pode sim ser um problema de aprendizagem, mas muito mais que isto, pode ser sinal de que alguma coisa de errado esteja acontecendo na vida desta criança. Já pensou que ela pode estar sendo vítima de violência doméstica, de abuso sexual ou sendo explorado em trabalhos impróprios para sua idade?
E você já parou para pensar que os jovens tem se envolvido com as drogas, precocemente, porque lhes faltaram oportunidades de emprego, lazer, cultura, esporte, etc. E que, além de tudo isto, lhe faltou uma família que o cuidasse, o protegesse e o desse amor? Já pensou nisso?
Se você já parou para pensar nestas questões, na relação que existe entre as causas e os efeitos, dos problemas que enfrentamos hoje em dia, dormirei feliz porque verei que não estou só. Que mais pessoas pensam como eu e buscam entender os problemas contemporâneos com um olhar mais apurado e que sabem o quão difícil é encontrar uma solução para estes problemas. Se você compreende como eu que soluções simples para problemas complexos não iram resolvê-los de uma vez por todas e sim maquiar a realidade. Se pensar assim ótimo, se não comece agora! Não pretendo dar aqui, obviamente, a soluções dos problemas que as famílias enfrentam com seus filhos hoje em dia. Mas quero sim provocá-los a pensar mais que em situações do cotidiano e sim nos processos em que estas situações surgiram. Vejamos pois.
Todos os anos chegam vários ofícios, de diversas escolas da cidade, no Conselho Tutelar, informando os alunos que em dado período do ano letivo tiveram elevadas faltas e baixo desempenho escolar. Trata-se do problema da evasão escolar. Vamos então pensar no processo que levou determinado aluno a se evadir da escola. Quando tomamos conhecimento que determinado adolescente se evadiu do sistema de ensino precisamos entender o que o trouxe até esta situação, o processo, senão teremos pouca eficiência na nossa ação. Este processo se dá em pelo menos três esferas: a familiar, a escolar e a social. Na família precisamos entender: Como esta a família deste adolescente, como se relacionam, como os pais educam seus filhos, lhes impõem limites, acompanham a vida escolar dos filhos, se têm tempo para os filhos, se trabalham demais, etc. Na escola, precisamos entender: se este aluno se sente parte da comunidade escolar, se ele é devidamente bem acolhido, se a proposta pedagógica da escola lhe faz sentido, se a direção da escola cumpre devidamente o papel de dirigir a unidade escolar, se os professores sabem, mais que ensinar, se eles sabem ouvir, reconhecer o que há de bom neste aluno, seu potencial, etc. Na sociedade, precisamos entender qual o contexto de vida deste aluno, de que meios ele tem se alimentado culturalmente, quais as condições sociais do seu bairro, que oportunidades o meio social lhe oferece, etc.
Poderíamos discorrem aqui inúmeras pistas para chegarmos às causas e então entendermos os efeitos, quando se fala de evasão escolar. Mas creio que estas já são o suficiente para entendermos que o processo da infância quando vivemos lá nos anos 70, 80 e 90 foi um o que nossas crianças e adolescentes estão vivendo é outro, cada um com sua singularidade. Se entendermos isso, iremos cuidar melhor de nossas crianças e adolescentes e eles serão mais bem preparados para criar seus filhos.

Paulo Roberto dos Santos - Paulinho
22/04/2010 – 01h00