2 de nov. de 2011

O bicho


Cem me preocupar com cientificismos e um tal rigor filosófico eu gostaria de compartilhar uma situação que vivi hoje, que me fez lembrar o poema O bicho de Manuel Bandeira (Rio, 27/12/1947). Por razões óbvias não vou transcrever aqui todo o contexto que me levou aquele local.

Procurando por um grupo de irmãos em um dos bairros mais miseráveis da região que atendo (sudoeste) chegamos a um pequeno barraco, se é que assim podemos chamá-lo. Cachorros e gatos com sarna, trapos no varal, lixo por toda parte, cheiro de fezes humanas, bananeira entre o “barraco” e o córrego.

Batemos a porta insistentemente por um bom período, não tinha tranca, a porta estava quebrada ao meio, apenas encostada, silêncio e escuro lá dentro, quando já íamos desistindo, ouvi uma voz, não entendi direito o que dizia. No vão da porta avistei uma senhora, já de idade, acamada.

- Bom dia! Disse a ela.

- A senhora está bem?Perguntei.

- Precisa de alguma ajuda? Quer que eu chame um médico?

E ela respondeu que não, que estava bem, que só estava deitada, dormindo. Perguntamos por seu filho e ela nos pediu que entrássemos. Adentramos ao pequeno barraco, de um só cômodo. Deitada, coberta com uma pequena manta, numa cama... não sei bem se aquilo era uma cama... entre trapos, restos de comida, pontas de cigarro, uma espuma velha, embolorada, ... me agachei para conversar com a frágil senhora. Uma garrafa de pinga barata ao lado da cama, ela mal conseguia falar... parecendo um bicho.

Meus Deus! Era uma mulher!


Campinas, 01 de Novembro de 2011


Paulo Roberto dos Santos - o Paulinho

3 comentários:

Gabriel disse...

aconteceu de verdade paulinho?

Vera Lucia disse...

A primeira vez que li esse poema fiquei extremamente chocada em ver uma realidade tão dura exposta numa folha branca em forma de letras, sabendo que toda aquelas linhas tão bem escritas eram uma realidade crua e chocante. Não apenas um belo poema.

Paulinho disse...

De verdade Gabriel, infelismente