10 de jul. de 2013

Cesárea: 9 razões para desmarcar

Cesárea: 9 razões para desmarcar

Se você já agendou o parto cirúrgico, leia essa reportagem e pense de novo. Pode ser que você mude de ideia

Por Paula Montefusco, neta de Florinda, Mario, Maria e Ângelo

No Brasil, quando alguém pergunta para uma grávida quando nasce o bebê, muito provavelmente vai ouvir mês, dia e hora. O Brasil está entre os recordistas mundiais em cesárea. Em 2006, registramos uma taxa de 80,7% de partos cesarianos na rede particular. O SUS, responsável por 80% dos partos realizados em território nacional, teve 30% de cesarianas, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de, no máximo, 15%. Ao todo, 40% dos partos realizados no Brasil são cirúrgicos, por uma série de motivos que já discutimos aqui: a baixa remuneração dada pelos convênios, comodidade dos médicos e, sim, preferência de muitas das mães, que querem ter controle sobre a data de nascimento do filho e pensam também evitar a dor. Entre as consequências está o aumento de bebês prematuros, com todos os problemas decorrentes, entre eles necessidade de internação na UTI. Um estudo da Unifesp revelou que, no Brasil em média 60% dos nascimentos acontecem por volta da 37ª ou 38ª semana de gestação. Convencida?

Se ainda está na dúvida, reunimos nove motivos para você desmarcar a cesárea e considerar o parto normal, mesmo que seja o induzido, quando são usados medicamentos que simulam os hormônios liberados no trabalho de parto. Ele pode ser melhor do que a cesárea porque mãe e filho passam pelo trabalho de parto, juntos. No caso de gestações de alto risco, como as de mulheres que têm pré-eclampsia ou diabetes gestacional é possível fazer o parto normal sem problemas, contanto que as doenças estejam sob controle. Caso seu problema com o parto normal seja medo da dor, lembre-se de que, na cesárea ela também existe, não durante, mas depois: a recuperação é mais longa e dolorosa.

Para ativista do parto humanizado britânica Janet Balaskas, autora do livro Parto Ativo, o parto normal não precisa ser uma experiência dolorosa. Segundo Janet, a mulher deve tomar as rédeas de seu próprio parto. Para isso, ela trabalha com exercícios e posições baseados na yoga, em que a grávida mentaliza a criança e como o processo está sendo realizado pelo seu ponto de vista. É uma tentativa de se colocar no lugar do outro para percorrer o trajeto do trabalho de parto em vez de apenas sofrer com as contrações. Mas, para quem não está tão centrada assim, sempre dá para pedir ajuda ao anestesista. E se você não mudar de ideia, tudo bem, a gente faz coro com a obstetra Luciana Taliberti que resume tudo: "O melhor parto é o que seja bom para mãe e bebê, o importante é que ele nasça com saúde e que o parto tenha um resultado feliz."

1 - Você não precisa dela

"Em 90% das vezes a mulher não precisa de cesárea, ela pode parir sem ela. Então para que marcar a cirurgia?", questiona a obstetra Andrea Campos. Segundo a médica, os principais motivos para considerar fazer uma cesárea acontecem durante o trabalho de parto e não podem ser previstos com antecedência, como a dificuldade de o bebê descer pelo canal de parto.

Outras indicações comumente usadas para justificar a cesárea geralmente podem ser contornadas, como circular de cordão (quando o cordão fica enrolado em torno do pescoço do bebê), que acontece em 30% dos casos. A ausência de dilatação, justificativa usada em grande parte das situações pode ser explicada pela falta de contrações regulares. Se a mulher está sem dilatação, provavelmente ainda não entrou em trabalho de parto, pois, para haver dilatação, é necessário haver contrações. Caso a mulher não entre em trabalho de parto, ainda é possível induzir as contrações com uso de hormônios injetados na veia ou com ruptura da bolsa, que pode estimular o início das contrações nas primeiras 24 horas.

2 - O bebê tem de estar pronto para sair

É muito comum acontecer um erro de cálculo e o bebê nascer com a idade gestacional abaixo do esperado. O médico pode achar que está tirando uma criança com 39 semanas e ela ainda tem 37 ou 38, por exemplo. Por mais que os ultrassons atuais sejam bastante precisos, isso ainda pode acontecer. O problema é que, se você fizer a cesárea antes que o bebê esteja pronto, os pulmões dele podem não estar prontos. Como os pulmões são os últimos órgãos a se formar, pode acontecer de eles não estarem maduros o suficiente para uma vida extrauterina. Aí podem acontecer casos de desconforto pulmonar: o bebê tem dificuldade de respirar e pode precisar da ajuda de aparelhos ou, ainda ter de passar um tempo na UTI.

Segundo Laura Gutman, autora do livro A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, o conceito de data provável de parto não pode ser levado ao pé da letra porque se trata de uma estimativa: "Realizar uma cesárea antes do início do trabalho de parto é uma prática perigosa, na maioria dos casos irá nascer um bebê prematuro."

3 - Se o bebê não passa pelo canal vaginal da mãe ele deixa de receber bactérias importantes para a formação de seu sistema imunológico

Quando ele passa pelo canal sua pele é colonizada pelas bactérias da mãe. Esse contato é importante para a defesa do organismo porque, logo que vier ao mundo, já vai ter de lidar com bactérias estranhas ao seu organismo, como as do próprio hospital. Mas cuidado, esse contato pode também expor a criança a doenças transmissíveis pelo contato com a genitália da mãe como a hepatite B e C, HPV, herpes genital e HIV. Se a mãe fez o pré-natal direitinho, as chances de que o bebê contraia doenças desse tipo é muito menor. Uma das teorias é que o contato com as bactérias maternas seria um fator protetor contra alergias. Um estudo finlandês publicado no Journal of Allergy and Clinical Imunology mostrou que pessoas que nasceram de cesárea são três vezes mais suscetíveis a manifestar asma.

Outra pesquisa, feita na Alemanha e publicada no Pediatric Allergy and Immunology, descobriu que bebês que nascem por cesariana têm mais chances de desenvolver alergias alimentares até os dois anos de idade. Já um estudo feito em 2008, e que acompanhou crianças desde o nascimento até os 9 anos verificou que crianças nascidas por cesárea com pais que tinham alergia ou asma tinham duas vezes mais chances de desenvolver alergia e rinite alérgica. Uma pesquisa da USP levantou que, em crianças que nascem de cesárea, as chances de desenvolver um quadro de obesidade ao longo da vida aumenta em 58%.

O estudo acompanhou 2.057 pessoas do dia do nascimento aos 25 anos e descobriu que 15,2% dos bebês nascidos por cesariana estavam com o Índice de Massa Corpórea acima de 30 - o que indica obesidade. Entre aqueles que nasceram de parto normal, apenas 10% eram obesos. Outra doença mais comum entre pessoas que nascem de cesárea é a diabetes tipo 1. É isso o que diz um estudo da Queen's University, no Canadá. Segundo a pesquisa, bebês nascidos por cesariana têm 20% mais chances de desenvolverem diabetes tipo 1.

Outro risco é de desenvolver doença celíaca, caracterizada pelo "autoataque" do organismo ao intestino delgado quando são ingeridos alimentos que contém glúten como trigo, centeio, cevada, aveia e malte. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Medicina de Hannover, na Alemanha, a probabilidade de ter a doença celíaca é 80% mais alta em crianças que nascem por cesárea.

4 - Quem tem que decidir a hora de sair é o bebê

"Quando o bebê está pronto, ele dá o 'start' para o trabalho de parto", defende a obstetra Andrea Campos. Durante o trabalho de parto, o bebê sofre influência de uma cascata hormonal, com as contrações ele recebe a massagem intrauterina e é avisado de que vai nascer e pode se preparar até que finalmente nasça. "E, para passar pela bacia, o bebê ajeita sua cabeça, descendo de uma maneira ativa pelo canal de parto. Na cesárea isso não acontece, o bebê nasce de maneira passiva porque é retirado do útero", completa.

5 - Se ele não recebe a massagem nos pulmões ao sair, o risco de desconforto respiratório aumenta

No parto normal, a passagem pelo canal vaginal comprime o tórax do bebê e estimula a saída do líquido amniótico para que o ar possa entrar. Se isso não acontece, o bebê fica com dificuldade para respirar e tem de receber oxigênio artificialmente ou ser entubado. Os casos de desconforto respiratório correspondem a 60% das internações na UTI Neonatal. "Aproximadamente 12% dos bebês que nascem de cesariana eletiva (a cesárea marcada) vão para a UTI. No caso dos bebês que nascem de parto normal, o número cai para 3%", conta Renato Kalil, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana.

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), fetos de 37 a 38 semanas de gestação possuem 120 vezes mais chances de apresentarem desconforto respiratório desta ordem em comparação aos fetos com mais de 39 semanas.

6 - No pós-parto a recuperação é mais lenta e dolorosa

O tempo de internação do parto normal é de 48 horas após o nascimento, para a cesárea este número sobe para 72 horas. E, enquanto depois do parto normal já dá para retomar as atividades de rotina no dia seguinte, na cesárea o tempo para realizar tarefas simples como dirigir podem levar até dez dias. O corte da cesárea atinge sete camadas de pele, tecido e músculo até chegar ao bebê. São eles: pele, gordura, fáscia muscular, músculo, peritônio parietal, peritônio visceral e útero. Depois de retirar a criança, cada camada é costurada separadamente. Ao todo são cerca de 75 pontos. O abdômen fica distendido e a mulher sente dor por duas ou três semanas.

7 - A cesárea oferece maior risco de complicações maternas

Sendo uma cirurgia de médio porte, a cesárea oferece todos os riscos de uma cirurgia, seja durante a operação em si, durante o período de analgesia ou no pós-operatório. Como em todas as cirurgias, existe o risco de sangramentos, complicações e infecções. Na cesárea a mulher perde cerca de um litro de sangue, o dobro do parto normal. Dados divulgados pela ANS atestam que a mortalidade materna é 2,8 vezes maior nas cesarianas eletivas sem emergência do que no parto vaginal.

8 - A cesárea aumenta os riscos de complicações na próxima gravidez

Se a mulher já fez uma cesárea há o risco de que ela tenha placenta prévia, que é a fixação da placenta em um lugar indevido da parede uterina causando maior risco de hemorragia (por vezes ela se aloja no colo do útero e a mãe precisa ficar em repouso absoluto) e prematuridade. Entram para a lista de riscos a placenta acreta, que é quando a placenta se fixa à parede do útero intensamente, provocando hemorragia ao sair. A mãe pode precisar de transfusões sanguíneas e ter ruptura uterina ou até precisar retirar o útero, impossibilitando-a de ter mais filhos.

Insistir na cesárea é algo comum, não é à toa que a gente ouve falar: "uma vez cesárea, sempre cesárea". Mas é possível, sim, fazer um parto vaginal depois de uma (duas, três...) cesárea(s). Apesar disso, nos Estados Unidos, a incidência de cesáreas recorrentes é de 92%. Em média, 66% das mulheres que fazem cesárea por lá poderiam ter tido o segundo filho por VBAC, sigla para Vaginal Birth After Caesarean (parto vaginal depois de cesárea), mas a maioria escolhe a cesariana novamente.

9 - O leite demora mais para descer

A ocitocina, um dos hormônios que provocam as contrações também é responsável pela descida do leite, razão pela qual a taxa de sucesso na amamentação é maior nas mulheres que tiveram parto normal. Depois do parto normal já é possível colocar o bebê sobre o corpo da mãe, sugando o peito. Na cesárea isso não é possível porque o abdômen da mãe está aberto e tem que ser fechado depois da saída do bebê.

A Organização Mundial da Saúde aconselha que o bebê mame já na primeira hora de vida e isso acontece com maior freqüência com crianças que nascem de parto normal. Segundo estudo da Fiocruz isso acontece com 22,4% dos bebês que nasceram por parto normal contra 5,8% dos bebês que nasceram por parto cesariano. Ainda de acordo com o estudo, a primeira mamada pós-parto demora em média quatro horas para mães que fizeram parto normal e dez horas para aquelas mães que tiveram seus bebês por cesárea. Sem contar que, caso o bebê nasça prematuro por erro de cálculo na data ideal de nascimento, pode ainda não conseguir sugar o seio e precisar receber alimentação artificialmente. Claro que muitas mulheres que fizeram cesárea amamentam sem problema, mas que é um fator desfavorável a mais, isso é.

Quando a cesárea pode ser uma boa opção (ou não)

Aqui a cesárea não é obrigatória, mas talvez seja uma boa opção. Converse com seu médico e veja o que ele tem a dizer caso você se encaixe em uma destas situações

- Gravidez gemelar
O trabalho de parto pode se estender e a oxigenação dos bebês pode ficar comprometida

- Bebê pélvico ou transverso
Existem manobras para colocar a criança na posição certa para nascer. Quando elas não dão certo, não tem jeito, tem que ser cesárea

- Criança com circular de cordão
Dependendo do lugar em que elas estão e da quantidade, a cesárea pode ser o mais recomendado

- Bebê prematuro
Quando o bebê é muito novo pode ser considerado muito sensível para passar pelo canal vaginal

Quando a cesárea é necessária?

Às vezes optar pela cesariana é uma questão de vida ou morte, mãe ou bebê podem estar em perigo e é preciso fazer o parto rápido. Fique de olho para estas condições

- Desproporção cefalo-pélvica
A cabeça da criança é muito grande em comparação à bacia da mãe. Mas isso só pode ser constata do uma vez que a mulher está com dilatação total. Então, mesmo se você faz o tipo mignon não se preocupe antes da hora

- Sofrimento fetal
E isso não quer dizer, necessariamente, mecônio no líquido amniótico (as primeiras fezes do bebê, que tingem o líquido de verde). O médico vai analisar os sinais vitais da criança e a progressão do trabalho de parto para ver se o parto normal é viável ou não

- Eclâmpsia
Quadro de hipertensão característico à gravidez, nela, a mãe apresenta convulsões, inchaço e pressão alta. Para evitar que o quadro se agrave e a mãe morra, a solução é fazer o parto assim que a criança puder sobreviver fora do útero

- Placenta prévia total
Quadro em que a placenta é fixada na saída do canal vaginal, impedindo a passagem da criança.

11 de jun. de 2013

Meninos Carvoeiros (Manoel Bandeira)

Meninos carvoeiros

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

— Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

Petrópolis, 1921

O professor (poeminha de Drumond)

"O professor disserta
Ponto difícil do programa,
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras da vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acordá-lo.


(O professor, Carlos Drumond de Andrade)

23 de fev. de 2013

Tudo sobre a gravidez Parte 6 Documentário Discovery

Tudo sobre a gravidez Parte 5 Documentário Discovery

Tudo sobre a gravidez Parte 4 Documentário Discovery

Tudo sobre a gravidez Parte 3 Documentário Discovery

Tudo sobre a gravidez Parte 2 Documentário Discovery

Tudo Sobre a Gravidez Parte 1 Documentário Discovery

Filme mostra reação do feto quando a mãe toma água

Muito criativo este comercial ...




Sexo do bebê - Menino ou menina

22 de fev. de 2013

Criança é criança. Precisa ser criança para tornar-se um adulto saudável. Pais e professores, levantem esta bandeira: DIGA NÃO À EROTIZAÇÃO INFANTIL!

4 de fev. de 2013

Banho no balde / ofurô

No curso de gestantes que fizemos (Adriana e eu) sábado, passaram dois vídeos, um sobre o banho na banheira e outro no balde/ofurô. Procurando no Youtube encontrei esse aqui, uma gracinha ...

O espaço do balde se aproxima com o da barriga da mãe, por isso é indicado para banhar os bebês quando estiverem agitados, com cólica, irritados. Com o banho no balde a criança relaxa, pouco a pouco vai se tranquilizando....


16 de jan. de 2013

O profissional do serviço social e o gosto pela leitura


A disciplina de leitura e produção de texto é hoje no Brasil, comum a muitos cursos do ensino superior. A princípio o conteúdo desenvolvido nela deveria ser aplicado no ensino médio, de modo que o aluno, ao ingressar no ensino superior tivesse pleno domínio da língua portuguesa. Essa disciplina busca nivelar minimamente o conhecimento de seus alunos sobre a língua portuguesa, visto que - com a baixa qualidade do ensino médio da rede pública – chegam ao ensino superior sem ter pleno domínio da escrita e da leitura. Sobre isso, gostaríamos de fazer alguns apontamentos para compreendermos o quão importante é o domínio da língua escrita e falada para o profissional do serviço social.

Carlos Montaño, em sua obra “A natureza do serviço social” aponta o caráter de subalternidade do serviço social. Ele destaca quatro aspectos sobre essa subalternidade/subordinação do serviço social em relação a outras profissões e ou ciências. Dentre eles o aspecto do empobrecimento do estudante/profissional de serviço social. Para Montaño, com a massificação do ensino superior a partir dos anos 1960 e 1970, somado ao aumento populacional, ao aumento do desemprego, ao ingresso da mulher no mercado de trabalho e do desenvolvimento tecnológico houve um empobrecimento real – socioeconômico e cultural – dos alunos de alguns cursos, entre eles o serviço social. O autor é bastante perspicaz ao tratar do assunto, aqui, nos identificando em sua análise e queremos com isso, desenvolver uma breve reflexão sobre a condição de leitor/escritor para os profissionais de serviço social. O profissional do serviço social, cotidianamente, na sua ação profissional faz leituras das realidades que encontra, portanto precisa aprimorar o domínio sobre todas as técnicas de que dispomos, a começar pela técnica de ler e escrever.

O acesso ao ensino e aos meios culturais mais eruditos no Brasil, antes dos anos 1960 e 1970, era privilégio de poucos, era restrito às classes A e B. Com isso, diversas profissões adquiriam status social de maior ou menor importância. Pouco a pouco esse status vem se alterando, a assistente social, por exemplo, conforme nos diz Montaño, deixa de ser atividade exclusiva das mulheres, católicas, da burguesia e começa a ganhar espaço nas classes C e D. 

“... terá maiores probalidades de ser estigmatizada como uma profissão de pobres. (...) No caso do serviço social uma profissão de pobres para pobres.” (Montaño, 2009: 103).

  
Ao nos identificar nesta condição, de alunos provenientes das classes C e D, de reconhecer que não tivemos em nossa formação, desde os primeiros anos de ensino na educação básica, acesso aos níveis mais elevados do ensino e aos meios culturais mais eruditos, tomamos para nós as conclusões de Montaño: Temos de romper com a relação de subalternidade do Serviço Social com as demais profissões e ou ciências. Colocar-nos perante às novas demandas sociais como ciência e não como técnica, não como ação benevolente. Assim, dominar a língua portuguesa torna se o primeiro passo para alcançar espaço na academia e no mercado de trabalho.

O estudante universitário que vem das classes C e D, salvo raras exceções, adquire o habito de ler por força da necessidade e não pelo prazer de mergulhar em um livro, de fazer descobertas, viver aventuras, paixões. A leitura neste contexto está muito mais ligada a uma obrigação do que a um prazer. Está ai uma primeira lição, buscar dia-a-dia prazer na leitura. Ao se falar em leitura, geralmente, pensamos em decodificação de letras, sílabas, palavras, construção de frases, ideias. Está correto, leitura é tudo isso, mas não só. É importante compreendermos que a todo tempo estamos fazendo leituras através dos signos, símbolos, imagens, sons etc. Atrás de cada um desses elementos, temos a ideia de alguém. Ao processar essa ideia estamos interagindo com o autor. O ato de ler é maior que decodificar letras e palavras. Começamos a ler um livro ao pegá-lo, ao sentir sua textura, seu tamanho, ao observar suas gravuras, ao ler o título, a orelha, o sumário, o número de páginas. Ao final dessa leitura inicial, podemos decidir continuar ou não. De que adianta ler um livro denso, complexo, que não lhe faz o menor sentido, que mal se entende suas palavras?

Na escola oficial se aprende ler decodificando palavras, interpretando muito pouco e raramente se encontra sentidos na oração. Nesse sentido, Paulo Freire diz:  


“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho” (FREIRE, in Educação na cidade, 1991).


Cada pessoa desenvolve estratégias de leitura a sua maneira, algumas o gosto pela leitura é tanto que perdem sono, perdem o ônibus, o tempo etc. Literalmente mergulham na leitura.  Outras desistem de ler por qualquer motivo, a programação da TV, a internet etc. As duas situações têm a ver com hábitos. Um caminho para adquirir o hábito da leitura é estabelecer momentos do seu dia-a-dia para a leitura. Se é daqueles que sente dor-de-cabeça ao ler no ônibus, não insista. Escolha um outro momento do seu dia, meia hora antes de dormir, no horário de almoço etc. O importante é que aquele seja um prazer e não uma penúria. Outro recurso importante é, ao ler, interagir ao máximo com o autor. Fichar o texto, a lápis ou marca texto, marque todas as palavras que não entender, se for preciso, recorra ao dicionário. Marque as idéias mais relevantes do texto, se tiver dúvida, pergunte, questione. Praticas como essa tira o leitor da condição passiva e ele se torna sujeito no texto. Por fim, um conselho, não tenha pressa, tudo na vida é processo, um passo após o outro, temos certeza, a hábito da leitura nos faz bons escritores e na profissão bons assistentes sociais.

NOTA DO MNDH SOBRE AS INTERNAÇÕES COMPULSÓRIAS EM SÃO PAULO

Contrários às evidências científicas e recomendações da Organização Mundial de Saúde, o Governo do Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil, por meio de um Termo de Cooperação Técnica, tentam apresentar as práticas e estratégias de recolhimentos e internações forçadas (quer sejam compulsórias ou involuntárias) como solução para as questões que envolvem o tema do uso, abuso e dependência química.

Este recém celebrado Termo de Cooperação Técnica – herdeiro direto da “Operação Dor e Sofrimento”, também conhecida como “Operação Centro Legal” -, chama atenção pela mais completa falta de diálogo entre Estado e Sociedade Civil, excluindo Conselhos de Direitos e de Participação Social em Políticas Públicas, entidades de representação dos profissionais da saúde e da assistência social, movimentos sociais e Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Assim a assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre o Governo Estadual, Tribunal de Justiça, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil, no último dia 11 de janeiro, tenta emprestar ar de legitimidade às antigas práticas de higienismo social. Com atenção e esforços focados na região central da cidade de São Paulo, na região da Luz (também conhecida por ‘Cracolândia’), o planejamento parece não enxergar que a questão do uso, abuso e dependência química se espalha pelos mais diversos territórios.

Por meio desta DECLARAÇÃO a Coordenação Estadual e Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) manifestam seu repúdio às práticas e estratégias de recolhimentos e internações compulsórias e/ou involuntárias, em marcha no Estado de São Paulo, que tem como foco a repressão da segurança pública e a força do judiciário, desconsiderando os princípios constitucionais da proteção integral do ser humano que deve gerir todas as ações do Estado às populações vulneráveis, e propomos:

Imediato diálogo com a Sociedade Civil, Movimentos Sociais, Autoridades Municipais, Conselhos de Direitos e de Participação Social em Políticas Públicas, entidades representantes de profissionais e militantes da Saúde e da Assistência Social e Defensoria Pública do Estado de São Paulo para construção de diretrizes ao Plano Estadual de Políticas Sobre Drogas e criação de um fórum permanente para interlocução Estado-Sociedade.
Imediata suspensão do Termo de Cooperação Técnica celebrado entre Governo do Estado, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil, no último dia 11 de janeiro.
Imediata adequação - tanto quantitativa como qualitativa - da rede de proteção sócio-assistencial e de saúde (Centro de Atendimento Psicossocial – CAPS; Centro de Atendimento Psicossocial – Álcool e Drogas – CAPS-ad; Centro de Referência Especializada de Assistência Social – CREAS; Centro de Convivência e Cooperativismo - CECCO), conforme as Normas Operacionais Básicas do Sistema Único da Assistência Social e do Sistema Único da Saúde e do SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.

Para tanto conclamamos todas as entidades e movimentos sociais contrárias as práticas de internações compulsórias para mobilização e participação no dia 22 de janeiro de 2013 às 17:30 na rua Antonio de Godói, 122 – 11º andar – Auditório , centro de São Paulo, para traçarmos estratégias de enfrentamento as inúmeras violações dos direitos humanos.

A Coordenação Nacional e Estadual do MNDH