A disciplina de leitura e
produção de texto é hoje no Brasil, comum a muitos cursos do ensino superior. A
princípio o conteúdo desenvolvido nela deveria ser aplicado no ensino médio, de
modo que o aluno, ao ingressar no ensino superior tivesse pleno domínio da língua
portuguesa. Essa disciplina busca nivelar minimamente o conhecimento de seus
alunos sobre a língua portuguesa, visto que - com a baixa qualidade do ensino
médio da rede pública – chegam ao ensino superior sem ter pleno domínio da escrita
e da leitura. Sobre isso, gostaríamos de fazer alguns apontamentos para
compreendermos o quão importante é o domínio da língua escrita e falada para o
profissional do serviço social.
Carlos Montaño, em sua obra “A
natureza do serviço social” aponta o caráter de subalternidade do serviço
social. Ele destaca quatro aspectos sobre essa subalternidade/subordinação do
serviço social em relação a outras profissões e ou ciências. Dentre eles o
aspecto do empobrecimento do estudante/profissional de serviço social. Para
Montaño, com a massificação do ensino superior a partir dos anos 1960 e 1970,
somado ao aumento populacional, ao aumento do desemprego, ao ingresso da mulher
no mercado de trabalho e do desenvolvimento tecnológico houve um empobrecimento
real – socioeconômico e cultural – dos alunos de alguns cursos, entre eles o
serviço social. O autor é bastante perspicaz ao tratar do assunto, aqui, nos
identificando em sua análise e queremos com isso, desenvolver uma breve
reflexão sobre a condição de leitor/escritor para os profissionais de serviço
social. O profissional do serviço social, cotidianamente, na sua ação
profissional faz leituras das realidades que encontra, portanto precisa
aprimorar o domínio sobre todas as técnicas de que dispomos, a começar pela
técnica de ler e escrever.
“... terá maiores probalidades de ser estigmatizada como uma profissão de pobres. (...) No caso do serviço social uma profissão de pobres para pobres.” (Montaño, 2009: 103).
Ao nos identificar nesta
condição, de alunos provenientes das classes C e D, de reconhecer que não
tivemos em nossa formação, desde os primeiros anos de ensino na educação básica,
acesso aos níveis mais elevados do ensino e aos meios culturais mais eruditos,
tomamos para nós as conclusões de Montaño: Temos de romper com a relação de
subalternidade do Serviço Social com as demais profissões e ou ciências. Colocar-nos
perante às novas demandas sociais como ciência e não como técnica, não como
ação benevolente. Assim, dominar a língua portuguesa torna se o primeiro passo
para alcançar espaço na academia e no mercado de trabalho.
O estudante universitário que
vem das classes C e D, salvo raras exceções, adquire o habito de ler por força
da necessidade e não pelo prazer de mergulhar em um livro, de fazer
descobertas, viver aventuras, paixões. A leitura neste contexto está muito mais
ligada a uma obrigação do que a um prazer. Está ai uma primeira lição, buscar
dia-a-dia prazer na leitura. Ao se falar em leitura, geralmente, pensamos em
decodificação de letras, sílabas, palavras, construção de frases, ideias. Está
correto, leitura é tudo isso, mas não só. É importante compreendermos que a
todo tempo estamos fazendo leituras através dos signos, símbolos, imagens, sons
etc. Atrás de cada um desses elementos, temos a ideia de alguém. Ao processar
essa ideia estamos interagindo com o autor. O ato de ler é maior que
decodificar letras e palavras. Começamos a ler um livro ao pegá-lo, ao sentir
sua textura, seu tamanho, ao observar suas gravuras, ao ler o título, a orelha,
o sumário, o número de páginas. Ao final dessa leitura inicial, podemos decidir
continuar ou não. De que adianta ler um livro denso, complexo, que não lhe faz
o menor sentido, que mal se entende suas palavras?
Na escola oficial se aprende ler
decodificando palavras, interpretando muito pouco e raramente se encontra
sentidos na oração. Nesse sentido, Paulo Freire diz:
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho” (FREIRE, in Educação na cidade, 1991).
Cada pessoa desenvolve
estratégias de leitura a sua maneira, algumas o gosto pela leitura é tanto que
perdem sono, perdem o ônibus, o tempo etc. Literalmente mergulham na
leitura. Outras desistem de ler por
qualquer motivo, a programação da TV, a internet etc. As duas situações têm a
ver com hábitos. Um caminho para adquirir o hábito da leitura é estabelecer
momentos do seu dia-a-dia para a leitura. Se é daqueles que sente dor-de-cabeça
ao ler no ônibus, não insista. Escolha um outro momento do seu dia, meia hora
antes de dormir, no horário de almoço etc. O importante é que aquele seja um
prazer e não uma penúria. Outro recurso importante é, ao ler, interagir ao
máximo com o autor. Fichar o texto, a lápis ou marca texto, marque todas as
palavras que não entender, se for preciso, recorra ao dicionário. Marque as
idéias mais relevantes do texto, se tiver dúvida, pergunte, questione. Praticas
como essa tira o leitor da condição passiva e ele se torna sujeito no texto.
Por fim, um conselho, não tenha pressa, tudo na vida é processo, um passo após
o outro, temos certeza, a hábito da leitura nos faz bons escritores e na
profissão bons assistentes sociais.
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