16 de jan. de 2013

O profissional do serviço social e o gosto pela leitura


A disciplina de leitura e produção de texto é hoje no Brasil, comum a muitos cursos do ensino superior. A princípio o conteúdo desenvolvido nela deveria ser aplicado no ensino médio, de modo que o aluno, ao ingressar no ensino superior tivesse pleno domínio da língua portuguesa. Essa disciplina busca nivelar minimamente o conhecimento de seus alunos sobre a língua portuguesa, visto que - com a baixa qualidade do ensino médio da rede pública – chegam ao ensino superior sem ter pleno domínio da escrita e da leitura. Sobre isso, gostaríamos de fazer alguns apontamentos para compreendermos o quão importante é o domínio da língua escrita e falada para o profissional do serviço social.

Carlos Montaño, em sua obra “A natureza do serviço social” aponta o caráter de subalternidade do serviço social. Ele destaca quatro aspectos sobre essa subalternidade/subordinação do serviço social em relação a outras profissões e ou ciências. Dentre eles o aspecto do empobrecimento do estudante/profissional de serviço social. Para Montaño, com a massificação do ensino superior a partir dos anos 1960 e 1970, somado ao aumento populacional, ao aumento do desemprego, ao ingresso da mulher no mercado de trabalho e do desenvolvimento tecnológico houve um empobrecimento real – socioeconômico e cultural – dos alunos de alguns cursos, entre eles o serviço social. O autor é bastante perspicaz ao tratar do assunto, aqui, nos identificando em sua análise e queremos com isso, desenvolver uma breve reflexão sobre a condição de leitor/escritor para os profissionais de serviço social. O profissional do serviço social, cotidianamente, na sua ação profissional faz leituras das realidades que encontra, portanto precisa aprimorar o domínio sobre todas as técnicas de que dispomos, a começar pela técnica de ler e escrever.

O acesso ao ensino e aos meios culturais mais eruditos no Brasil, antes dos anos 1960 e 1970, era privilégio de poucos, era restrito às classes A e B. Com isso, diversas profissões adquiriam status social de maior ou menor importância. Pouco a pouco esse status vem se alterando, a assistente social, por exemplo, conforme nos diz Montaño, deixa de ser atividade exclusiva das mulheres, católicas, da burguesia e começa a ganhar espaço nas classes C e D. 

“... terá maiores probalidades de ser estigmatizada como uma profissão de pobres. (...) No caso do serviço social uma profissão de pobres para pobres.” (Montaño, 2009: 103).

  
Ao nos identificar nesta condição, de alunos provenientes das classes C e D, de reconhecer que não tivemos em nossa formação, desde os primeiros anos de ensino na educação básica, acesso aos níveis mais elevados do ensino e aos meios culturais mais eruditos, tomamos para nós as conclusões de Montaño: Temos de romper com a relação de subalternidade do Serviço Social com as demais profissões e ou ciências. Colocar-nos perante às novas demandas sociais como ciência e não como técnica, não como ação benevolente. Assim, dominar a língua portuguesa torna se o primeiro passo para alcançar espaço na academia e no mercado de trabalho.

O estudante universitário que vem das classes C e D, salvo raras exceções, adquire o habito de ler por força da necessidade e não pelo prazer de mergulhar em um livro, de fazer descobertas, viver aventuras, paixões. A leitura neste contexto está muito mais ligada a uma obrigação do que a um prazer. Está ai uma primeira lição, buscar dia-a-dia prazer na leitura. Ao se falar em leitura, geralmente, pensamos em decodificação de letras, sílabas, palavras, construção de frases, ideias. Está correto, leitura é tudo isso, mas não só. É importante compreendermos que a todo tempo estamos fazendo leituras através dos signos, símbolos, imagens, sons etc. Atrás de cada um desses elementos, temos a ideia de alguém. Ao processar essa ideia estamos interagindo com o autor. O ato de ler é maior que decodificar letras e palavras. Começamos a ler um livro ao pegá-lo, ao sentir sua textura, seu tamanho, ao observar suas gravuras, ao ler o título, a orelha, o sumário, o número de páginas. Ao final dessa leitura inicial, podemos decidir continuar ou não. De que adianta ler um livro denso, complexo, que não lhe faz o menor sentido, que mal se entende suas palavras?

Na escola oficial se aprende ler decodificando palavras, interpretando muito pouco e raramente se encontra sentidos na oração. Nesse sentido, Paulo Freire diz:  


“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho” (FREIRE, in Educação na cidade, 1991).


Cada pessoa desenvolve estratégias de leitura a sua maneira, algumas o gosto pela leitura é tanto que perdem sono, perdem o ônibus, o tempo etc. Literalmente mergulham na leitura.  Outras desistem de ler por qualquer motivo, a programação da TV, a internet etc. As duas situações têm a ver com hábitos. Um caminho para adquirir o hábito da leitura é estabelecer momentos do seu dia-a-dia para a leitura. Se é daqueles que sente dor-de-cabeça ao ler no ônibus, não insista. Escolha um outro momento do seu dia, meia hora antes de dormir, no horário de almoço etc. O importante é que aquele seja um prazer e não uma penúria. Outro recurso importante é, ao ler, interagir ao máximo com o autor. Fichar o texto, a lápis ou marca texto, marque todas as palavras que não entender, se for preciso, recorra ao dicionário. Marque as idéias mais relevantes do texto, se tiver dúvida, pergunte, questione. Praticas como essa tira o leitor da condição passiva e ele se torna sujeito no texto. Por fim, um conselho, não tenha pressa, tudo na vida é processo, um passo após o outro, temos certeza, a hábito da leitura nos faz bons escritores e na profissão bons assistentes sociais.

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